Sunday, June 29, 2014

Não quero mais um inverno...

"Vielleicht kommt dann kein Winter mehr, ich will keine Winter mehr"

Ao retornar do Brasil, encontrei-me com aquele típico cenário de novembro -  as folhas secas como um tapete se espalhavam pelas ruas e um céu cinzento cobria a cidade.
Era o final do outono marcando também o final daqueles anos de vida na Alemanha.
Naquele ano também comemorei o dia de ação de gracas (Thanks Giving) pela primeira vez, a convite de uma amiga. Eu percebi que não me bastaria apenas um dia para agradecer por tudo o que havia em minha vida recebido. Especialmente porque gratidão não deve ser um ato isolado, mas apenas o reflexo de um andar em continua ciência de que todo o bem recebido é vindo por mera graça.
No topo da minha lista de agradecimentos, estão em primeiro lugar as pessoas que encontrei pelo caminho durante essa longa caminhada, e era com eles que eu celebraria aquele momento.
Entre brindes e lagrimas, assim todos nos despedimos.
- A festa não está acabando, apenas mudando de endereço.- Disse uma amiga.
Sim, mais uma mudança nessa minha vida cigana. Eu lacrava as caixas e rasgava o coração por precisar partir mais uma vez. Também precisei fazer umas comprinhas adicionais - pois durante o verão eu  havia doado as minhas roupas de inverno para uma instituição social, pensando que voltaria a morar no Brasil.
Eu imaginava que a minha partida seria um final de uma história. Não poderia imaginar o que ainda estaria por vir...



"Und jeder Atemzug, hängt am seidenen Faden, solang bis wir da sind"

Monday, June 2, 2014

Das coisas inexplicáveis...

"E Deus disse: Moisés, diga ao povo que marche!" - explicava meu pai sentado a mesa farta na hora do almoço. Na casa de Dona Clores, minha avó, não é apenas o alimento para o corpo que é abundante, mas também aquele para a alma. A minha família de reformados, mesmo após a ida do vovô, continua esbanjando discussões teológicas com carne assada e bons vinhos.
"Ele não deu uma direção específica, quantos graus para o norte, quantos centímetros deveriam parar em frente ao mar... Ele penas disse que marchem. O povo marchou e o resto aconteceu." - continuava meu pai.
Argumentos ou contra argumentos surgiam dos vários tios, tias, primos... Todos protegidos por referencias diversas e a conversa se estendia até o entardecer.
Os gatos passeavam entre as nossas pernas sob a mesa e era difícil resistir a mais um pedaço de bolo.
Naquele momento, eu comecei a entender qual era a minha mensagem. Era hora de marchar.
Minha avó segurou a minha mão novamente e me disse: "Filha, estamos muito felizes por você e seu novo emprego. Vá com Deus para esse reino e encontre seu príncipe no alto da montanha."
É bastante claro que um dos últimos sonhos da minha avó é ver o meu casamento. Eu pedi a Deus que ela viva o suficiente para isso.
Mas após esses momentos, eu pude sentir que todas a minhas inseguranças quanto a me estabelecer em uma terra nova eram apenas pequenos detalhes. Encontrar um apartamento, comprar toda a mobília, conhecer pessoas novas, isso tudo que eu pedia são coisas tão pequenas comparados a imensidão do nosso criador. O meu temor era apenas uma reflexão da minha falta de fé.
Passeando com meu irmão a beira do rio,  nós tiramos várias fotos, demos boas risadas e eu pude me despedir da paisagem que sabia demoraria para ver novamente.
Então, com o contrato assinado, parti novamente. Dessa vez levando comigo todos os documentos que havia esquecido da última vez.